9 de dezembro de 2011

Memória do horror


Tive oportunidade de conhecer Berlin neste ano. Antes da viagem me preparei estudando o que foi o século XX para a Alemanha e especialmente para sua capital. Achei que ficaria maravilhada por conhecer de perto os lugares da história, tocar no muro, ir aos museu, chorar nos memoriais e ouvir sobre a dor do holocausto. Não foi o que aconteceu.

Fiquei abismada com a insistência em que os fatos lacerantes eram narrados em cada rua. Tudo lembrava do horror. Não era possível esquecer. Senti repulsa, náusea. Tentei cegar os olhos e só fazer passeios festivos pelos parques. Me protegi. Na volta, já distanciada, refleti sobre o porquê dos judeus, e dos alemães não semitas, insistirem tanto em marcar esta história. Me pareceu algo como uma prisão, como estar ainda ligado ao opressor, um se definir pela tragédia.
Por que lembrar?
Sigo pensando sobre isso e juntei à reflexão o que aprendi dentro das Atuadoras com as mulheres vítimas de violência. Quando elas conseguem falar sobre isso, contar sua história e quando alguém as ouve, acredita nelas, estas mulheres transformam a experiência vivida solitariamente em algo real. Saem do pesadelo. Sempre achei que o importante era o encontro com outras mulheres na mesma situação, e o reconhecimento entre elas e quem sabe o salto político para a percepção de que o vivido no privado é na verdade um problema público, social. Hoje já não sei se era só (só?) isso.
Talvez qualquer escuta atenta, acolhedora, ajude a ir materializando o que era somente sofrimento. Há um alívio no encontro com um outro que ajude a nomear o absurdo, o sem palavras. Uma outra pessoa humaniza a experiência por nomear a tragédia. O horror deixa de ser um mal estar inlocalizável e, embora não seja apagado, encontra palavras. E não é só isso que somos? Palavras?

Um comentário:

disse...

Nossa, Dani, senti exato o mesmo que você em Berlim, achava que era só eu (é, importante as palavras). A cidade mantém o sofrimento sempre presente. A culpa. Todos estão sempre lembrando a culpa. Acho que foi isso que percebi