1 de setembro de 2010

Escolheram morrer

Na segunda-feira, a Folha de S. Paulo, noticiou que uma “onda de suicídios comove sul-coreanos”. No ano passado, o vice-presidente se jogou de uma colina; em 2008, a artista considerada “atriz da nação” se enforcou e, com isso, aumentou a taxa de suicídios em 70% no mês seguinte; o herdeiro da Samsung, neto de seu fundador, colocou fim a própria vida no mês passado. Segundo o jornal, a taxa de suicídio no país ficou em 30 por 100 mil habitantes, maior do que o índice de homicídio do Brasil (25,2).
Analistas locais atribuem à relação fracasso/vergonha o aumento tão expressivo dos atentados à própria vida na Coréia. Ou seja, os coreanos do sul teriam padrões morais altos demais para conseguirem sustentar o desejo de viver diante de situações consideradas humilhantes, degradantes ou mesmo vergonhosas para seus padrões culturais. Somado a isso, há na cultura coreana um conceito chamado “han”, uma espécie de rancor, luto, pathos, lamentação, que se resume a uma sensação de opressão e impotência diante de situações desesperadoras. Ou seja, quando algo vai mal, os coreanos tenderiam a se frustrar e a fazer escolhas drásticas.
Sabemos pouco sobre o suicídio motivado pelo sentimento de vergonha, de fracasso na vida social. No ocidente, nos organizamos em torno da idéia de indivíduo, e portanto, de subjetividade. Aqui, consideramos o suicídio como uma questão de foro íntimo, como resolução trágica para conflitos pessoais, como alternativa a um quadro de grande dor psíquica. É distante a idéia de tirarmos nossa própria vida a fim de manter intacta uma suposta excelência da comunidade.
Podemos pensar na dificuldade que deve ser pertencer a este código cultural que valoriza a honra – “o sentimento que leva o homem a procurar merecer e manter a consideração pública” (Michaelis) – quando esta cultura é bombardeada com os valores capitalistas de competitividade, de valorização do ter em detrimento do ser, de excesso de individualismo.
Claro, qualquer uma das abordagens possíveis de aproximação deste assunto me parecem bastante coerentes: a sociológica, a econômica, a antropológica, a psicológica. No entanto, tenho a sensação de que todas são incompletas e não dão conta, nem mesmo juntas, de se entender o que passa naquela sociedade e na cabeça/coração destes indivíduos que escolhem não mais viver. A mim, entrar em contato com este assunto, causa o mal-estar generalizado, aquela coisa sem nome que faz a gente querer mudar de assunto ou, pior,  que faz a gente pensar como é fácil escorregar para o lado mortífero do viver. Não faço idéia do que se passa por lá.
Só quero acabar este post.

Um comentário:

Unknown disse...

Impressionante, muito forte mesmo essa história.