12 de agosto de 2010

O corpo como outdoor

 
   Durante a copa do mundo, uma mulher desfrutou de seus minutos de fama: a paraguaia Larissa Riquelme. Descoberta/inventada pela mídia, ela foi durante algumas semanas notícia no Brasil. No entanto, houve um fato pouco noticiado na nossa imprensa. Durante o jogo entre Paraguai e Espanha, Larissa apareceu com uma tatuagem na qual se lia AXE em um de seus seios. A Unilever pegou carona na fama da modelo e pagou para ter uma de suas marcas divulgada na direção de onde iriam os olhares dos homens e mulheres ligados em futebol e em um devaneio erótico.


   Na nossa sociedade ser é ser visto – visto na mídia. Mulheres emprestam seus corpos à publicidade: de cerveja, de perfumes, do que for, de nada, do que pagar bem, do que a deixar em evidência. Faz-me lembrar de uma frase em um espetáculo teatral da Cia. do Latão no qual uma personagem dizia: “No mundo da mercadoria, coisa má é não ser mercadoria”.

   Homens consomem anúncios que prometem liberdade através de um carro, potência sexual ao beber uma cerveja, realização profissional ao ser cliente de determinado banco. Aos homens a promessa é de que serão ricos e de que eles não desejam mais nada a não ser uma bunda, alguns seios, uma mulher-objeto.

   Adoraria ver o Carrefour veiculando um comercial com um homem de cueca e pau duro fazendo compras entre gôndolas. Talvez os homens reagissem com a mesma indignação que as mulheres sentiram ao ver as primeiras propagandas de cerveja com mulheres hiper-sexualizadas. Seria uma boa estratégia de sensibilização criar propagandas com visões tão limitantes dos homens como são a maior parte dos comerciais em relação as mulheres.

   Ou talvez não leve a nada propor o mesmo veneno já que, na realidade, perdemos todos e todas com a apropriação de nossos corpos e desejos por um mercado que quer nos vender mais e mais produtos que não precisamos.

(Primeira publicação no Blog das ATUADORAS www.atuadoras.wordpress.com)

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