8 de março de 2011

A princesa infectada com o vírus da AIDS


O ministro da Saúde fez o teste de HIV em Salvador e lançou uma campanha de prevenção da AIDS com foco nas moças entre 13 e 19 anos, que hoje já se infectam mais que os rapazes na mesma idade. No Paraná, por exemplo, a proporção é de 20 moças para 1 jovem infectado na mesma faixa etária.
Alguns anos atrás, AIDS não era uma doença esperada em mulheres. Porque a epidemia vem mudando o gênero alvo? A primeira hipótese que me ocorre é mais óbvia. A libertação sexual feminina é real e, de fato, hoje as mulheres transam mais, com mais parceiros e cada vez mais cedo. Igualando-nos ao comportamento antes considerado masculino, nos colocamos sob os mesmos prazeres e riscos.
No entanto, caminhando na trilha de pensamento do psicanalista João Alberto Carvalho, tendo a acreditar que é o amor romântico o maior vilão desta história. Carvalho, no livro “O Amor que Rouba os Sonhos”, faz uma pesquisa com mulheres que se infectaram ao terem relação sexual com seus parceiros soropositivos sem preservativos e conscientes dos riscos.
Por que com tanta informação, avanços do feminismo e mesmo sendo economicamente chefes da família, as mulheres colocam suas vidas em risco? Na dialética da relação dominador-vítima há um pacto inconsciente celebrado entre eles de que a relação deve causar um ganho para ambas as partes. Ou seja, de alguma forma, as mulheres se submetem porque (acham) que ganham com isso. Não conhecendo outro discurso, só tem em seu repertório de visão de mundo o texto do dominante, que é machista, patriarcal e romântico. E dentro desta lógica a mulher é e está para o amor. "Ruim mesmo é não ter marido." É não viver um sonhado conto de fadas, é não fazer sua parte como mulher/princesa que entrega tudo por amor. 

Ou seja, as mulheres não escolhem morrer ao transar sem camisinha. Esta seria uma escolha burra, portanto, improvável. Ela escolhe ser sujeito, ser o sujeito esperado pela cultura, ela escolhe amar. O HIV é dano colateral, mas pior seria não se submeter ao desejo de seu homem e, com isso, ser menos mulher por ser infiel aos seus deveres românticos. Se no nosso mundo a paixão romântica é destino das mulheres, é o seu objetivo maior de existir, ela se sujeitará ao que for para seguir sendo, seguir existindo, seguir tendo função.

5 comentários:

Luciana da Silva disse...

Olá Dani!
Minha primeira visita ao seu blog. Gostei muito e, seguramente, voltarei mais vezes.
Tenho meus dois pés atrás em relação a tão propagada (r)evolução feminina. Não que seja um engodo total, mas
creio que a dominação, da mulher pelo homem se dá - ainda muito fortemente - em níveis tão mais sutis do que simplesmente o econômico ou o "dou para quem eu quiser, sou bem-resolvida"... Seu texto mostra bem isto. Parabéns pela reflexão.

disse...

Essa mensagem do Ministério da Saúde é tipo automática?

Daniele Ricieri disse...

Acho que sim, Rô.Mas achei ótimo que eles procurem espaços online para dar informações.

Ministério da Saúde disse...

Olá, Rô! não, não é uma mensagem automática. Nós do Ministério da Saúde fazemos intervenções nas redes socias, a fim de conscientizar as pessoas da importância de usar preservativo. Pedimos também ajuda a vocês blogueiros para divulgar informações sobre a transmissão do vírus HIV. Acreditamos que quanto mais informação passamos, mais conscientes e responsáveis ficam as pessoas. Obrigado pelo espaço em seu blog!
Atenciosamente,
Ministério da Saúde

disse...

Olha lá, que legal mesmo!

Bem bacana seu post Dani!

Gostei tbm da iniciativa do Ministério!