27 de fevereiro de 2011

Perdi para o meu corpo


É com esta sentença que Ronaldo encerrou a coletiva de imprensa na qual declarou que deixaria de ser um jogador de futebol profissional. Segundo o (ex) jogador seu afastamento foi causado pelas constantes lesões no joelho e pelo fato de possuir uma doença crônica chamada hipotireoidismo. O cruel é que esta síndrome é absolutamente contornável por reposição hormonal diária, no entanto as regras do futebol consideram esta prática dopping.
Mas voltemos a formulação desta frase: “perdi para o meu corpo”. Faz pensar em uma visão de mundo religiosa na qual é possível separarmos o que somos realmente – nossa alma – do nosso corpo: terrível algoz com suas próprias vontades e males. Certamente este é um pensamento infantil que pode fingir, maniqueistamente, que o mal é algo fora de mim. Ou seja, que nega a castração em que o sujeito humano habita: não estamos no nosso corpo, somos o corpo. Somos a carne que padece, bem como a erotização e o simbólico que permite à carne chamar corpo.
Ou seja, embora seja tentador, e um momentâneo apaziguador da angustia, imaginar que somos para além do corpo, não somos. Ronaldo não perdeu para o seu corpo, apenas tem que ligar com este contorno – uns chamam de realidade – dentro do qual cabe a ele ser criativo, ser vivo.