26 de julho de 2010

Mulheres no Sumô


Uma plataforma de terra com aproximadamente 50cm de altura em formato quadrangular, no topo um círculo com 4,65m de diâmetro. Em cada um dos lados do quadrado, um homem sentado. Duas garotas se aproximam, uma de cada lado, jogam sal na arena, se cumprimentam e lutam.
Neste final de semana aconteceu, em São Paulo, o Campeonato Brasileiro de Sumô. Tive oportunidade de acompanhar as lutas do feminino no domingo. Por aqui, mulheres e meninas, a partir dos 5 anos, competem profissionalmente.




É recente a criação da categoria feminina neste milenar esporte japonês. Só em 1996 aconteceu a primeira competição oficial para mulheres. Fora do Japão. Em solo japonês as mulheres não só não podem competir profissionalmente, como não podem se aproximar do Dohyô – a arena descrita no começo deste texto – por serem consideradas impuras.
O Sumô é um esporte repleto de preceitos religiosos. Embora sua origem não seja precisa, acredita-se que esteja ligada aos rituais xintoístas de colheita. A lenda conta que foi em uma luta de Sumô que o Deus soberano das ilhas japonesas foi escolhido. No Dohyô, a plataforma quadrada, simbolizaria a Terra e o círculo no meio, o céu. O solo portanto é considerado sagrado. E interditado às mulheres e suas impurezas.
A maior parte das culturas religiosas das quais participamos hoje tem, não raro, a mesma percepção do feminino como algo impuro, distante do sagrado, profanador. Estou pensando nas três religiões monoteístas: judaísmo, islamismo e cristianismo. Ora, para não nos alongarmos, é suficiente lembrarmos que em nenhuma destas religiões as mulheres podem ser lideres espirituais: não há Papisa, uma Imã ou uma Rabina.
Sabemos também de outras várias religiões, cujos “estados” não ganharam a guerra, que viam na mulher exatamente o oposto. Os Celtas, por exemplo, eram matriarcais e confinavam à mulher a sabedoria da colheita e da vida.
Não é pequena a influencia da religião em nossas vidas e costumes. Alguns dogmas são tão fortemente naturalizados que nem sabemos o que religião tem a ver com o fato de  uma mulher não pode lutar sumô. No domingo, uma das competidoras me disse que no Japão elas não competiam profissionalmente porque “é a tradição”. Taí uma Deusa bem em voga ultimamente: a Tradição. Deusa cruel com aqueles que ousam perguntar: de onde é que ela vem mesmo?

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